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sábado, 10 de junho de 2017

Mestre: deus, anjo ou demônio?



Como muitos (se não todos) os Fieis Leitores do Blog de Cavalaria sabem, me chamo Andre Prinz von Trivulzio-Galli, sendo que sou o atual Príncipe Titular de Mesolcina (um antigo Principado do Sacro Império Romano-Germânico, localizado na Suíça, e criado em 1622 pelo Imperador Fernando II de Habsburgo, em aumento do Condado criado em 1413 pelo Imperador Sigismundo de Luxemburgo, e que passou à minha Família em 1480 com o Imperador Frederico III de Habsburgo). Por conta disso foi decidido que eu deveria receber uma educação com fortes cores voltadas para a história e demais matérias humanísticas. Desde muito cedo tive grande interesse pela heráldica (desenhei meu primeiro brasão perfeito aos 9 anos), e tive instrução na matéria com dois grandes heraldistas (minha saudação aos Mestres Silveira e Baroni). 

Todavia quando passei a ter perguntas que nem meus antigos Mestres conseguiam ter respostas, percebi que era hora de passar a estudar sozinho, pois, se queres ser um bom discípulo, procure um grande Mestre, mas se queres ser um grande Mestre, estude só. Meus antigos professores eram ambos especialistas em heráldica portuguesa, matéria que me passaram com perfeição, porém eu queria ser também um especialista nos demais campos da heráldica: queria ser tão bom na heráldica portuguesa quanto na espanhola, na inglesa, na francesa, na italiana ou na alemã, enfim, em um tempo em que heraldistas entendiam apenas de uma escola heráldica, eu pretendia saber de todas.



Minhas aspirações, porém, não diminuíram em nada minha admiração por aqueles grandes heraldistas que me ensinaram a base da heráldica, ao contrário, para não contrariá-los em nada, busquei outro veículo de difusão, já que eles haviam sido autores de livros, com razoável sucesso até, eu busquei a Internet que nascia, um meio de explanar minhas ideias. 

Foi de fato pela Internet que fiz meu nome como heraldista conhecido e autor respeitado, principalmente nos "anos de ouro" dos Blog's, isso é, entre 2011 a 2013 que blog's como esse, ou o Blog de Heráldica, ou tantos outros, tiveram seu apogeu. Nesse período a heráldica entrou na Rede Mundial de Computadores e o fez de uma forma respeitável, sempre com embasamento técnico e com respeito às antigas Regras. Foi nesse período que criei termos antes faltosos no idioma de Camões quando se referia a determinadas áreas da Heráldica, como por exemplo o termo Escola Heráldica que se refere à tradição heráldica de determinada país, região, povo ou cultura, atualmente tão utilizado, foi criado por mim em um texto de 2011, e rapidamente adotado por amigos autores na Espanha, França e Portugal... De fato a Internet trouxe essa expectativa "mágica" de aproximar pessoas com interesses em comum, mas que viviam em diversas partes do mundo, algo impensável antes.



 Também foi graças à Internet que ocorreu uma aproximação até então impensável, barreiras sociais foram sendo rompidas, diferenças intelectuais foram sendo reduzidas, e dessa forma vieram meus primeiros alunos, que queriam em mim um Mestre que os ensinasse a Heráldica, Genealogia, História e as Matérias da Cavalaria, assunto que era sempre citado. Meu primeiro discípulo foi um rapaz francês, que queria muito aprender heráldica... sabia desenhar um pouco, mas era plenamente ignorante quando às aplicações, ou mesmo em assuntos ligados à Cavalaria, onde empregam-se hoje a maior parte dos heraldistas. De fato o ajudei, e ao longo de dois anos o ensinei as técnicas da Ciência Heroica, e logo o apresentei a muitos amigos europeus, membros de diversas Ordens de Cavalaria, ou mesmo com influência em Casas Reais. Em um período em que surgiam os primeiros vetores, ele foi um verdadeiro sucesso e logo passou a desenhar para várias Ordens e Casas Reais.

Foi nesse período que percebi que surgia uma verdadeira relação religiosa e quase mitológica entre o Mestre Heraldistas e o discípulo, pois, como nunca cobrei para ensinar ou para dar cursos (sempre preferi sem um "filósofo" a ser um "sofista") meus alunos me viam como um verdadeiro deus (sim, deus com minúscula, pois nenhum humano pode ser Deus, já que Este é Uno e Trino, não é algo para nós), e diziam "Don Andre é um verdadeiro deus para mim, me ensinou tudo o que sei... a ele devo tudo...", porém, conforme o tempo passava e as matérias que ia ensinando lhes gabaritava, o pouco sucesso que iam atingindo já era suficiente para mudar essa relação mitológica Mestre/aluno, e, com o afã de tentar superar o mestre, porém da forma errada, o modo como passava-se a dirigir a mim era outro, e diziam "Don Andre é um anjo, viu o talento que eu tinha e deu-me uma oportunidade...", porém a vontade de se sobrepor ao mestre era tamanha que vinha a ideia de que "uma luz para se tornar mais forte, deve ofuscar as demais", e dessa forma, buscando se tornar um heraldista mais conhecido do que eu mesmo, meu discípulo passou a tentar dizer coisas menos agradáveis a meus respeito, nos grupos onde eu mesmo o havia inserido.

Quando porém o chamei para conversar, e lhe lembrei de tudo o que havia feito por ele, e que um verdadeiro Cavalheiro sabe sempre ser grato e reconhecer o que havia recebido de seu Mestre, pude perceber que a relação mitológica se mantinha, porém, eu que inicialmente era visto como um deus, e passei depois a ser tido como um anjo, era visto agora como um demônio, que precisava ser combatido e desmerecido, como a única forma de ser superado no campo do conhecimento...



 Com o tempo vieram outros alunos, e muitos outros, na verdade... Ensinei a heráldica para portugueses, brasileiros e argentinos... ensinei as matérias para vários padres e muitos tantos leigos, uns ainda menos preparados que os outros (tanto entre padres como entre leigos), e pude perceber um sinistro padrão que vinha sempre na relação mitológica entre o Mestre e o aluno, inicialmente era visto como um deus, e passava depois a ser tido como um anjo, e no final era visto como um demônio, e essa cadência seguia sempre o mesmo passo que o aluno avançava no aprendizado da heráldica. 

Porém mesmo assim ensinei muita gente, a cada aluno que aceitava preteria pelo menos 15 ou 20 (e Deus sabe que meu critério de escolha nem sempre era o mais talentoso, então se estiveres lendo esse meu texto, e tenhas sido um daqueles alunos que eu não ensinei, saibas que não o fiz por maldade, ou por qualquer questão pessoal, mas sim por falta de tempo mesmo), porém com o tempo aprendi a não esperar muita coisa de bom em retorno , pois foram raros os casos em que tive gratidão como pagamento por meu trabalho. Não estou aqui também dizendo que todos os meus alunos viraram-me às costas, claro que não... mantenho ainda uma relação muitíssimo boa com vários deles...



Este texto porém é uma "carta aberta" que escrevo (na primeira pessoa do singular, coisa raríssima de fazer) a todos os meus alunos, e ex-alunos... Saibam o que esperar da heráldica em suas vidas, pois tudo o que fazemos é por amor à Heráldica, porém não é uma matéria onde a gratidão encontra berços profundos, pois, em um mundo onde a vaidade impera, a gratidão morre cedo.

(imagens do corpo do texto, do grande Mestre Hugo Gerard Ströhl, que nem cheguei a conhecer (já que morreu em 1919), porém ao qual, mesmo assim, conservo toda a gratidão, por elevar a Heráldica ao nível de arte.) 

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